A remuneração das empresas do transporte público a partir do custo fixo da operação do sistema – em vez do cálculo sobre o número de passageiros, como ocorre atualmente em São Paulo – foi defendida durante o segundo dia do Fórum Mobilidade Urbana: Tarifa e Financiamento, realizado pelo Ministério Público, em parceria com a Rede Nossa São Paulo. A argumentação foi do professor Mauro Zilbovicius, do Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da USP, com o aval do ex-secretário de Transporte da gestão da prefeita Luiza Erundina, Lúcio Gregori, que com ele dividiu a mesa na parte da tarde desta terça (8).
Zilbovicius faz a seguinte conta para exemplificar o que ele chama de “falácia do custo unitário”: se o sistema custa R$ 1 milhão por dia transportando 1 milhão de passageiros, ao custo unitário por passageiro de R$ 1, a tarifa é de R$ 1. Quando um sistema concorrente oferece transporte equivalente em qualidade por R$ 0,80 e consegue retirar 100 mil passageiros do sistema original, o custo unitário sobe para R$ 1,11. Então, a tarifa também acaba reajustada para R$ 1,11, porque os custos subiram. Então, vem o concorrente e leva mais passageiros do sistema. O custo unitário e a tarifa, por consequência, sobem novamente.
Aumentos que, segundo o professor, não se justificam, porque o passageiro não gera custo, e sim receita. O que gera custo é a operação do sistema, independentemente da quantidade de passageiros transportada. “O custo é fixo. A receita é que diminui. E quanto mais passageiros, até o limite físico do sistema, mais receita. O custo, porém, é igual”, defende o Zilbovicius.
O engenheiro explica que o custo do serviço de transporte depende do dimensionamento do sistema e de parâmetros previamente definidos, como linhas (rotas e extensão), localização de pontos, frequência dos ônibus nas linhas e o nível de ocupação dos ônibus.
Com a remuneração ocorrendo por custo unitário, quanto maior o número de passageiros em cada viagem, melhor é considerada a linha, porque a receita com ela é maior. Então, sempre haverá linhas preteridas pelo operador, as de baixo número de passageiros. O que justificou, segundo o professor, a criação da Companhia Municipal de Transportes Coletivos (CMTC), que atuava nas linhas consideradas “ruins”, rejeitadas pelas empresas.
“Na concessão simples, os operadores contratados têm a tarifa fixada, com linhas lucrativas ou não. Assim, se a tarifa é ‘social’, os operadores cortarão custos para preservarem margens de lucro”, argumentou Zilbovicius. “É a lógica das companhias aéreas. Tem que lotar o avião, porque o custo é o mesmo. O custo é fixo, não precisa de nenhum número para mostrar isso.”
“A probabilidade é zero de que a soma dos passageiros seja coincidente com o custo total (do sistema). Ou será maior ou menor”, afirmou o engenheiro Lúcio Gregori. “Existe uma primeira discussão que se antecede de longe que é a forma de contratar os veículos em São Paulo. E absolutamente incompatível a relação com o passageiro.”
Leia mais sobre o Fórum Mobilidade Urbana: Tarifa e Financiamento
Municipalização da Cide seria medida ‘socialmente justa’, diz pesquisador
Nossa São Paulo propõe estudo sobre passe livre no transporte público
Economista sugere criação de agência reguladora do transporte público na Grande SP
Presidente do Metrô é questionado sobre gastos com ‘grandiosidade’ de estações
Empresas de transporte público apresentam custos das tarifas na Região Metropolitana de SP
Confira os links para as apresentações dos palestrantes no site do MPSP


