Subprefeituras das zonas norte e sul têm as maiores taxas de mortes de ciclistas
João Varella, do R7
As regiões norte e extremo sul da cidade de São Paulo concentram as mortes de ciclistas, de acordo com dados da prefeitura referentes a 2009 (último levantamento disponível) tabulados pela ONG Movimento Nossa São Paulo. Em comum entre esses bairros, a falta de ciclovias. Desde 2003, a situação é a mesma – ano após ano, essas regiões se mostraram as mais perigosas para os que desafiam carros e ônibus no asfalto.
As mortes, definidas como acidente envolvendo bicicleta, estão disponíveis em banco de dados da prefeitura. As subprefeituras de Vila Maria/Vila Guilherme, Casa Verde/Cachoeirinha (ambas na zona norte) e Parelheiros (zona sul) têm as maiores taxas de mortes do tipo, cálculo que considera o número absoluto e as populações desses bairros. A região da subprefeitura de Ermelino Matarazzo, na zona leste, que não tem ciclovias em seus limites, também surge entre as que apresentam maiores taxas.
A situação é similar à de 2008, quando Parelheiros foi a segunda região com maior índice de mortes de ciclistas, atrás de Jaçanã/Tremembé (zona norte). No ano anterior, Vila Maria/Vila Guilherme e Ermelino Matarazzo concentraram as mortes de ciclistas. Os dados vão até 2003 e mostram uma espécie de rodízio entre essas e outras regiões, também periféricas, que têm como característica a má infraestrutura no trânsito.
A cidade tem 35,5 km de ciclovias, segundo a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego). Desses, 16,7 km estão na zona oeste; 1,8 km, na zona sul; 10 km no centro e 7 km na zona leste. Em 2009, havia menos ciclovias ainda, já que os 14 km da ciclovia na marginal Pinheiros foram entregues em fevereiro passado.
Informações do Pro-Aim (Programa de Aprimoramento das Informações de Mortalidade no Município de São Paulo) e da SMS (Secretaria Municipal de Saúde) apontam que 45 ciclistas morreram no ano passado. O número é menor que em 2008, quando 52 ciclistas perderam a vida, e maior que 2007, com 42 mortes. Os números são diferentes da CET, que registrou 61 mortes de ciclistas em 2009 e 69 em 2008.
Não bastasse a existência de poucas ciclovias na cidade, Thiago Benicchio, diretor-geral da Ciclocidades, uma associação de ciclistas da capital paulista, aponta para a má qualidade desses espaços reservados a ciclistas.
– As intersecções na ciclovia da [avenida] Sumaré, por exemplo, não são sinalizadas. Um ciclista desavisado pode acabar se acidentando.
O ativista destaca que a ciclovia ideal deve ter boas condições de pavimentação (que não é o caso da maioria das ciclovias, principalmente a da Radial Leste), estar aberta sempre (ao contrário da ciclovia da marginal Pinheiros, que só funciona das 6h às 18h), ter vários pontos de acesso e não ficar no canteiro central, onde o usuário é mais vulnerável a assaltos.
André Pasqualini, um dos responsáveis pela ONG CicloBR, que incentiva o uso da bicicleta, afirma que o ideal seria a criação de um departamento na prefeitura voltado exclusivamente para mobilidade sem motor, enfocada nos ciclistas e pedestres. Um dos objetivos desse novo órgão seria fomentar a educação no trânsito, sugere Pasqualini. Segundo ele, os motoristas devem aprender a conviver com as bicicletas, já que seria impossível fazer ciclofaixas em todas as ruas.
E é justamente a falta de ciclovias a principal queixa dos moradores da zona norte da cidade, de acordo com a pesquisa Irbem (Indicadores de Referência de Bem-Estar no Município), realizada pelo Ibope a pedido da ONG Movimento Nossa São Paulo.
As secretarias de Transporte, Esportes e Infraestrutura têm somadas previsão orçamentária de R$ 3.000 para implantação de ciclovias e ciclofaixas (R$ 1.000 cada uma). Até julho deste ano, nenhum centavo foi gasto pelo governo. A secretaria do Verde e Meio Ambiente, por sua vez, tem R$ 2,3 milhões para ciclovias e já gastou R$ 1,3 milhão neste ano.
O uso da bicicleta vem crescendo ao longo dos anos. Segundo a CET, a pesquisa Origem/Destino, que é feita pelo Metrô a cada dez anos, mostrou um aumento de 183% no uso da bicicleta pelo paulistano. Em 1997, eram feitas 56 mil viagens de bicicleta, enquanto que, em 2007, esse número chegou a 156 mil – aumento de 178%. Bicicleta foi o tipo de transporte que mais cresceu entre as duas pesquisas.
Novas ciclovias
Por meio de nota, a CET, responsável pelas ciclovias, destacou que houve redução no número de mortos no trânsito – no caso dos acidentes envolvendo biciletas as mortes caíram de 1.463, em 2008, para 1.382 no ano passado.
O órgão também afirma que prepara licitação de projeto de 55 km de novas ciclovias, o que mais que dobraria a malha existente. Serão três novas ciclovias que ficarão afastadas da região central, pois nas regiões periféricas o uso da bicicleta é mais comum, segundo a pesquisa Origem/Destino de 2007, realizada pelo Metrô.
| Subprefeitura | Mortes por cem mil habitantes | Total de mortes |
| Vila Maria/Vila Guilherme (ZN) | 1,40 | 4 |
| Parelheiros (ZS) | 1,32 | 2 |
| Casa Verde/Cachoeirinha (ZN) | 0,96 | 3 |
| Ermelino Matarazzo (ZL) | 0,95 | 2 |
| Pirituba (ZN) | 0,90 | 4 |
| Penha (ZL) | 0,85 | 4 |
| Vila Prudente/Sapopemba (ZL) | 0,76 | 4 |
| São Miguel (ZL) | 0,73 | 3 |
| Jaçanã/Tremembé (ZN) | 0,72 | 2 |
| Guaianases (ZN) | 0,68 | 2 |


